sexta-feira, 22 de abril de 2011

Uma dor chamada Luto

“E a vida vem em ondas, como o mar, num indo e vindo infinito. Tudo que se vê não é igual ao que a gente viu há um minuto, tudo muda o tempo todo, no mundo.
Não adianta fugir, nem fingir pra si mesmo agora, há tanta vida lá fora e aqui dentro sempre, como um onda no mar. . .”
            Pois é! Lulu Santos conseguiu expressar metaforicamente a vida como o mar, que linda associação!
            “E a vida, e a vida o que é diga lá meu irmão, ela é a batida de um coração, ela é uma doce ilusão. E a vida, ela é maravilha ou é sofrimento, ela é alegria ou lamento, o que é, o que é meu irmão. Há quem fale que a vida da gente é um nada no mundo . . . somos nós que fazemos a vida, pro que der e quiser e vier. Sempre desejada, por mais que seja errada, ninguém quer a morte, só saúde e sorte. . . viver e não ter a vergonha de ser feliz, cantar e cantar e cantar a beleza de ser um eterno aprendiz...”
            Pois é! Gonzaguinha nos presenteia com uma música que fala por si, que fala por nós.
            Talvez sejamos apenas isso, eternos aprendizes de um constante ir e vir, que mesmo diante das dores da vida podemos retirar algum tipo de ensinamento, de crescimento, de alguma coisa que nem nós sabemos, mas que incrivelmente nos impulsiona para continuar, quando parece que não há mais força, não há mais sentido. . . 
            Talvez sejamos empurrados pelo amor a quem partiu, que não se esgota com a morte.
            Essa dor que parecesse não ter nome, que parecesse não ter fim. . .  essa dor é a dor da perda, é o luto.
            E como precisamos nos respeitar nesse momento em que todo nosso Eu esta sofrendo. Emocionalmente, fisicamente, socialmente, cognitivamente e parece que não nos reconhecemos, que vamos enlouquecer, que não vamos suportar.
E precisamos de respeito pois é na dor que nossa subjetividade se manifesta da forma mais intensa.
O luto é o processo de elaboração das perdas, sejam elas para a vida ou para a morte. É o “tempo” que precisamos para nos dar conta da ausência e buscar um sentido e assim poder retomar a vida, não mais da mesma forma. Objetivos, conceitos, regras, tudo passa a ser reformulado. Somos diferentes a cada dia e diante de cada acontecimento significativo. Diferente não significa pior, apenas diferente.
Precisamos aceitar nossas dores e nosso tempo, precisamos respeitar que, como humanos, a morte é um acontecimento demasiadamente doloroso, mas precisamos sobretudo acreditar que poderemos “suportar”. A cada dia me surpreendo mais com os exemplos de coragem e superação das pessoas diante das perdas, histórias que tocam e ensinam.
Luto não é doença, mas pode vir a se tornar caso não seja vivenciado ou caso se cronifique. O importante é reconhecer seus limites e pedir ajuda profissional quando sentir necessidade.
A morte nos ensina o quanto a vida precisa ser vivida com qualidade, o quanto nossos vínculos precisam estar saudáveis pois diante da dor da perda é a história que foi vivida que nos serve de apoio para prosseguir sem a pessoa que tanto amamos fisicamente ao nosso lado.
Com o luto podemos aprender que não perdemos quem amamos, mas passamos a nos relacionar de outra forma, que requer adaptação. Carregamos dentro de nós essas pessoas que sempre farão parte de nossa história, de nós.
Talvez, enlutar-se seja o tempo necessário para aprendermos uma nova forma de amor, um amor em que o outro passa a estar dentro de nós e não mais fora.

Millena Câmara