domingo, 27 de novembro de 2011

"Marque um compromisso na agenda do seu filho!" - Kátia Cristiane Bezerra

Tenho pensado muito a respeito da infância nesses tempos de modernidade. São tantas exigências, expectativas, compromissos e responsabilidades, que me faz lembrar da infância do século passado, em que as crianças eram "mini-adultos" e eram objetos de nenhuma atenção especial além de cuidar de sua saúde, bons modos, e ajudar os adultos em suas tarefas.

Hoje a realidade é outra, criança é superprotegida, é atendida em suas prioridades (infelizmente também nas futilidades), vai à escola muito cedo, é um nicho do mercado publicitário (pasmem, ainda não trabalham e já detêm um dos maiores poderes de compra!). Contudo, sofrem igualmente um dos piores males do nosso século: o excesso que encobre a falta.

Explico: enquanto nós, pais, trabalhamos e trabalhamos a fim de "viver bem", ter melhor qualidade de vida, ofertar boa educação aos nossos filhos, eles estão sofrendo significativas faltas. Falta nossa presença, nosso olhar cotidiano, falta tempo para fazer a tarefa, para levar à escola, para brincar no fim do dia, para colocar pra dormir... E sobra o quê? Nada diferente do que é a nossa própria vida de adultos, sobra trabalho e falta prazer.

Dia desses no consultório, uma  paciente de 08 anos me disse, animada:
- "Acredita que minha mãe me tirou do ....( determinada atividade)?! 
Eu lhe disse:
- "Ah , então sua mãe resolveu atender o seu pedido?
E ela seguiu:
" Que nada! Foi simplesmente porque não cabe na minha agenda... Tenho certeza de que se tivesse uma horinha sobrando ela não deixaria passar! "

Esse é um diálogo cada vez mais comum entre as crianças e os adolescentes hoje. Reclamar da agenda apertada e dizer que não sobra tempo para quase nada que não envolva os compromissos pré-profissionais: escola, balé, sapateado, inglês, natação, aula de reforço, kumon, aula de música, futebol...

Há quem diga que não é de todo ruim pois, baseado no discurso dos pais, quando crescerem verão o que é ter compromissos de verdade, referindo-se ao trabalho. É claro que há crianças muito ativas, que revelam várias habilidades, e que uma rotina preenchida não prejudica seu rendimento escolar, seu sono, ou até mesmo o seu lazer e descanso. Mas sabemos que não é a realidade de todos. A maioria dos pais está cheia de boas intenções ao lotar a agenda do filho, afinal, alguns querem dar-lhes as  oportunidades de que não dispuseram em sua própria infância. Há também os que preferem a rotina preenchida ao ócio em casa nas mãos de funcionários, ou diante da TV e do video game, e ninguém os condenará por isso. A questão é que cada criança possui seus próprios limites, sendo necessário, pois, estar atento a eles. Em alguns casos, a agenda lotada leva a uma fadiga e a sintomas indesejáveis, principalmente na esfera emocional, caso isso esteja acompanhado da ausência dos pais. De nada adianta novas descobertas e a aquisição de fantásticas habilidades, se os pais não estão ali para compartilhar.

Importante saber que a própria criança dará os sinais de que está bem e realizada naquilo que faz. Diante de sinais de alerta, ou qualquer dificuldade que possa comprometer o bom desenvolvimento físico e emocional do seu filho, reveja sua rotina. Conversar na escola, com os profissionais que o acompanham e, principalmente com a própria criança, são sempre os melhores caminhos. E não esqueçam: tempo é oportunidade. Marquem na agenda de vocês e dos seus filhos um encontro diário com a diversão, o carinho e o prazer.

Katia Cristiane Bezerra
Psicóloga clínica, Mestre em Psicologia na área de Família.
katia@apegoeperdas.com.br
*artigo encomendado pela Revista Viver Bem (publicado na edição set-out/2011, Natal-RN), na íntegra.

domingo, 20 de novembro de 2011

Os efeitos terapêuticos das estórias infantis - Luciana Figueiredo

O momento de contar histórias é, acima de tudo, uma fonte de prazer e contribui de forma ímpar para o desenvolvimento social, cognitivo e emocional da criança. O simples ato de narrar um conto de fadas permite a criança vivenciar uma aprendizagem significativa, trabalhando-se o lúdico e o imaginário infantil. 

De acordo com Bettelheim (2006), o conto de fadas é psicologicamente mais convincente do que a narrativa realista, porque coloca a criança frente a uma situação-problema cuja solução ela encontrará a partir da sua capacidade de imaginar.  Ao narrar uma estorinha, podemos colocar a emoção na entonação da voz e possibilitar que a criança passeie e interaja com os personagens, falando sobre o que ela acredita que irá acontecer. Desta forma, o conto de fadas terá um efeito terapêutico na medida em que a criança encontra uma solução para sua situação-problema, ou seja, seus medos e angústias. É como se a criança, ao sentir-se atraída pela narrativa, não se deixasse abater pelos seus problemas reais e experimentasse lutar contra as dificuldades da vida. É através dos efeitos heroicos e das palavras mágicas que a criança, de modo inconsciente, acredita que também poderá encontrar força para enfrentar suas dificuldades na vida. Segundo Bettelheim (2006), o conto de fadas diz à criança de que maneira ela pode viver com seus conflitos sugerindo-lhe fantasias das quais jamais ela seria capaz de inventar por conta própria. Fantasias essas que Radino (2003) define como nosso combustível interno. De acordo com suas afirmações, desde o nascimento, para que seja possível sobrevivermos psiquicamente, passamos a criar fantasias necessárias para dominar nossas angústias e realizar nossos desejos. De outra forma, seríamos esmagados por nossas angústias. O autor acrescenta que os contos de fadas dão forma aos seus desejos e emprestam-se como cenário de seus sonhos, aguçando a imaginação e favorecendo o processo de simbolização da criança. 

Para Bettelheim (2006), o conto de fadas é fundamental para a formação da criança, porque permite à criança experienciar a fantasia, a magia, o símbolo e o seu significado como um canal de acesso ao seu inconsciente, dando asas à imaginação, e possibilitando-lhe distinguir o real e o irreal, consentindo estabilizar afetos conflitantes, configurando claramente o justo e o injusto, o bom e o mal. Isso tudo só é possível porque estas narrativas possibilitam de modo inconsciente, através do “faz de conta”, acessar processos internos que ocorrem na parte mais íntima de um ser, na essência do seu sentir e do pensar. E as crianças por serem extremamente sensíveis entendem perfeitamente a linguagem dos símbolos presentes nos contos, pois as inventam no seu dia-a-dia no jogo do “era uma vez” e, seguem com a garantia transmitida pelos contos que assim como a princesa sofreu por toda a estória e teve um final feliz, ela também conseguirá ter um final feliz ao encontrar uma solução para lidar com suas angústias. 

E não é por acaso que em meio a tantos contos, a criança se identifica com um, e pede para a mamãe repetir incansavelmente a mesma estória ou parte dela.      

BETTELHEIM, Bruno. A psicanálise dos contos de fadas. 21. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2006.
RADINO, Glória. Contos de fadas e realidade psíquica: a importância da fantasia no desenvolvimento. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2003.

domingo, 13 de novembro de 2011

Eu por mim mesma - Kátia

       Bom, chegou a minha vez de contar como foi que eu vim para aqui.
    Na verdade, sou daquelas pessoas que acredita em destino, em encontros e, sobretudo, nos desígnios de Deus. Apesar da minha amizade dos últimos 17 anos com Millena Câmara, minha parceira desde os primeiros dias da faculdade, era daquelas que jurava nunca trabalhar com Luto. Essa negativa durou uns bons anos, até descobrir que Luto não tratava apenas das perdas para a morte.
    Quando sonhei ser psicóloga, pensava em cuidar de crianças. Meus anos como catequista me confirmavam esse desejo. Felizmente, ainda na minha formação, aprendi que para ser boa terapeuta, precisava atender todas as idades. E fui me encantando com meus clientes adultos desde o estágio. Mas, motivos maiores, uma decisão acertada e um pouco de sorte me levaram a fincar meus dois pés no social. Depois do rico estágio em psicologia escolar, trabalhei por 06 anos numa escola de referência em educação infantil, experienciando o que via nos livros e nas histórias dos meus clientes do consultório. Nessa época, influências profissionais e teóricas importantes recheavam meu currículo, além de oportunidades de descobrir fronteiras, como também foi o meu trabalho por quase 06 anos com grupos de pais e adolescentes na área de intercâmbio cultural. Como dádiva de Deus, fui nomeada no concurso do TJ e, atuando como psicóloga, estive mais de quatro anos na Vara de Infância e os últimos 06 anos nas Varas de Família. 
   Em todo esse tempo fui investindo no que poderia me acrescentar, pessoal e profissionalmente. Depois do Mestrado, fiz inúmeros cursos na minha área clínica: 05 anos de Formação Internacional em Biossíntese, Psicoterapia corporal para crianças e adolescentes com Brasilda Rocha, recentemente a formação, também internacional, em Constelações Familiares e, atualmente estudo um pouco de Psicanálise.
     Mas, voltando ao começo, como foi que eu vim parar aqui mesmo? Na verdade, isso tudo ia acontecendo e eu nunca desgrudei da minha amiga Millena. Construímos sonhos juntas, nos tornamos sócias, nosso consultório mas, até então, tínhamos vida paralelas. De tanto falarmos sobre separação conjugal, descobri que já trabalhava com luto todos os dias, o da família. E um dia recebi um delicioso convite: "Vamos fazer um curso?" E de lá para cá não paramos mais. Foram 03 cursos de luto Infantil, a primeira turma do Apego e Perdas e, agora, saindo do forno, o nosso Núcleo de Apoio Apego e Perdas, em parceria com Luciana e Marianna. 
   Nesses últimos 03 anos tenho aprendido muito com as meninas. Aprendido sobre vida, sobre morte, sobre apego e desapego, enfim, aprendido como dar mais valor a minha própria vida e às pessoas que amo, diariamente. Trabalhar com luto está me educando para a morte. Não só aquela finita, mas as muitas que temos ao longo da nossa existência. Não tem sido fácil. Continuo com medo de morrer, da morte dos meus, mas hoje estou muito feliz de poder trabalhar com esse tipo de cuidado. Um cuidado tão especial. De estar junto e ajudar o outro nos momentos mais dolorosos.

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Quem sou eu? Por Marianna Mendes

 "Cada um de nós compõe a sua história
 Cada ser em si
 Carrega o dom de ser capaz
 E ser feliz
 Conhecer as manhas
 E as manhãs
 O sabor das massas
 E das maçãs
 É preciso amor
 Pra poder pulsar
 É preciso paz pra poder sorrir
 É preciso a chuva para florir".

(Almir Sater)


    Bom...pensei que esse trecho da música, "tocando em frente" fala muito de mim... Sou apaixonada pela minha profissão, pela minha família ( que está crescendo...), pelos meu amigos e pelo núcleo que estamos construindo. Não tenho como falar da psicologia do luto sem falar da minha vida. Como diz a música, "cada um de nós compõe a sua história" e na minha existem, desde de muito pequena, perdas para morte. Mas acredito que é preciso a chuva para poder florir e, assim, me sinto hoje mais forte e com muita vontade de ser feliz...

    Diante das perdas, vivi o meu luto, mas só pude compreender, conhecer ou cuidar dele quando conheci Millena. Nosso encontro foi num curso, ela com seu jeito cuidadoso e carinhoso ensinava sobre morte, perda, luto... Eu fiquei fascinada e comecei  a estudar também. Ela foi, e ainda é, uma fada madrinha, guiou meus passos no final da faculdade, escutou meus choros quando viajava para a pós em psicologia do luto, no 4 Estações - SP, enfim, uma grande amiga. Ela também me apresentou Luciana e Kátia, com quem venho aprendendo cada dia mais a ser um ser humano melhor.
    Hoje, estamos formando o nosso núcleo, cada uma com seu jeito, com seu carinho e amor pela profissão. Eu trabalho no consultório e também fazendo atendimento domiciliares. Tenho uma enorme gratidão a todos os meus clientes ou pacientes, aprendi, aprendo e quero continuar aprendendo com eles. Vivenciamos juntos momentos emocionantes de troca, de emoções, sentimentos, despedidas... E ao sair de cada atendimento, penso novamente na música e acredito que "cada ser em si carrega o dom de ser capaz, e ser feliz...", mesmo quando estamos diante do turbilhão de emoções, sensações e medos que o luto nos coloca.                
   Finalizo 2011 com muitas realizações... O sucesso da primeira turma do Curso Apego e Perdas, a criação do Núcleo de Apoio Apego e Perdas, inscrições para a segunda turma no próximo ano, conclusão do curso de Psicoterapia Infantil, finalizando a Pós em Humanista Existencial....e realizando o sonho de ser mãe de uma menininha, Liz!!!

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Luciana Figueiredo por ela mesma

    Sou uma profissional completamente apaixonada e realizada!
    A Psicologia foi sempre um grande amor em minha vida. Mas, como na vida tudo tem seu tempo e sua hora, a formação precisou esperar um pouco. E como a vida é feita de escolhas, escolhi seguir por etapas. 
    A primeira foi construir minha família. Em 1996, experienciei a dadiva de ser mãe e me dedicar à minha filha. E em 1998, dei início a segunda etapa, achei que devia voltar a estudar. Acreditava que ainda não era o momento de iniciar a faculdade de Psicologia então, resolvi fazer Letras. Em 2000 fui mãe de um lindo rapaz e em 2002 tive a graça de receber em minha vida mais uma princesinha, e assim completei o meu trio, razão da minha existência! A maternidade foi a melhor experiência que tive ao logo desta caminhada. Acordar com um "bom dia, mãezinha" é muito bom!!!! A cada novo amanhecer esse bom dia me nutria de tal maneira que, sem perceber fui dando conta dos filhos, faculdade e ensaiando no mercado de trabalho.
     Prestei concurso para professor temporário e lecionei por um ano em uma escola estadual de São Gonçalo do Amarante. Em paralelo, fazia especialização em Psicopedagogia na Universidade Potiguar. Em 2005, concluindo o último módulo da especialização e estagiando na clínica, descobri que era chegado o meu momento. Comecei na mesma Universidade o curso de Psicologia. Participei de todos os cursos e congressos e, em um desses cursos da semana de psicologia da UFRN, conheci Millena Câmara. Me encantei com a forma como ela tratava o tema "Morte" que, para mim, parecia um novo  olhar! A sensação de ser possível encontrar sentido na vida, após vivenciar a experiência com uma perda de algo ou alguém que amamos. Perceber que é preciso passar pelo processo de luto e voltar a viver do jeito que for possível é apaixonante! Passei a segui-la de longe e, em um dado momento, a procurei para fazer terapia com ela. Costumo de dizer que minha vida se divide em dois momentos. Um antes de ter conhecido Millena e o outro, após esse encontro! Incrível. A emoção toma conta de mim sempre que lembro desta terapeuta que hoje considero um anjo enviado por Deus a Terra para cumprir uma missão muito especial, cuidar do outro.
     Em 2008, iniciei no grupo de estudo e supervisão de Millena, e foi então que conheci Marianna Mendes, uma pessoa maravilhosa que tenho enorme carinho, respeito e admiração. Passado algum tempo estudando sobre Luto, Millena me convidou a atender na Clínica Social com a supervisão dela. Em 2008, comecei a atender o primeiro caso de criança com uma demanda de separação conjugal. E em 2009, recebi o primeiro caso de Luto por morte. 
     Em Janeiro de 2010, realizei o meu grande sonho, ser psicóloga! Comecei minha atuação profissional no consultório e segui atuando em Ceará-Mirim no CRAS. Prestei concurso para psicólogo temporário do CREAS da Prefeitura do Natal, onde trabalhei por 01 ano e me submeti a um processo seletivo na empresa Nutrivida onde atuo como psicóloga clínica. 
     Em 2011, nasce o "Núcleo Apego e Perdas" idealizado por Millena Câmara e compartilhado comigo, Marianna Mendes e Kátia Cristiane. E a conclusão do curso de especialização em atendimento de criança e adolescente com Brasilda Rocha. 

sábado, 5 de novembro de 2011

Turma I - Realização e Saudades

Esse ano foi de muita realização e enriquecimento. Queremos deixar registrada aqui a nossa gratidão por uma caminhada tão rica de aprendizado, troca, emoções e desafios. Foram 05 módulos em que contamos com um entusiasmo de um grupo instigante, ávido por aprender, visivelmente maduro e cooperativo. Temos orgulho de capacitar profissionais dedicados como aqueles e, é claro, de aprender também.

Hoje, em Natal, já podemos falar de pessoas que significativamente aprenderam um pouco sobre o que é atender uma demanda tão delicada como a do luto. Ficamos orgulhosas de ver os psicólogos atuando tão bem no módulo de Intervenção. Foi realmente a coroação do nosso processo de aprendizado.

Um agradecimento especial aos nossos professores parceiros que tão bem abrilhantaram nossas aulas: a médica referência em Cuidados Paliativos no nosso Estado (e também em humanidade!), Dra. Daniele Soler, o encantador enfermeiro "humanizadíssimo" Dr. João Bosco, a respeitável Dra.Geórgia Sibele que já foi nossa mestre na UFRN, e nossas colegas parceiras Arieli Freitas (Porto Alegre-RS) e Rita Maia (TJRN). A todos nosso muito obrigado!

Depois que finalizamos o curso, no mês de setembro/11, muitas novidades já apareceram. Finalmente estamos concretizando o NÚCLEO DE APOIO APEGO E PERDAS, composto por mim (Kátia Cristiane Bezerra), Millena Câmara, Marianna Mendes e Luciana Figueiredo, nosso quarteto fantástico que idealiza realizar sonhos em comum. É um espaço de troca e capacitação profissional, de disseminação do tema do Luto e afins e, sobretudo, de cuidado ao enlutado, que é a nossa missão maior. Seja pela morte, pela separação conjugal, pelas perdas normativas, em situações emergenciais e de desastre, ou no seu contexto de trabalho, lidar com a perda nunca é fácil.

Outra novidade é a II Turma do curso, prevista para março de 2012. Já temos muitas pessoas interessadas e isso só se tornou possível por causa da primeira turma.

Para 2012 teremos mais novidades! Será formado o primeiro GRUPO DE ESTUDOS SOBRE PERDAS E PROCESSO DE LUTO, coordenado pela própria Millena Câmara. Será um espaço de estudo, mensal, onde serão discutidos as mais recentes e referendadas teorias sobre o tema. Para quem quer conhecer ou continuar estudando nessa área, é imperdível. Em breve divulgaremos o grupo. Aguardem!

Por Kátia Cristiane V. de Araújo Bezerra 

sábado, 9 de julho de 2011

Passamos da metade!

O nosso curso chega ao III módulo. Tem sido uma intensa e rica caminhada, esse três últimos meses. Iniciando pelo conhecimento das teorias de vínculo e consituição psíquica, discutindo os modelos de apego reconhecidamente difundidos por Bowlby e seus  colaboradores, aprendemos sobre Luto e, nesse fim de semana, contamos com a valiosa contribuição dos nosso convidados Dra. Daniele Soler, Profª Dra. Geórgia Sibele, Profº Dr. João Bosco, e o emocionante depoimento de Cléa Patrícia.
Nem consigo terminar de escrever.....

segunda-feira, 9 de maio de 2011

A dor dos amantes

O amor é uma condição inerente à nossa existência. Nascemos pelo amor, sobrevivemos por causa do amor que nos foi dado e passamos o resto das nossas vidas em busca da realização do amor pleno.
Em busca deste amor, encontramos no outro aquilo que falta em nós, e por isso experimentamos a deliciosa e instigante sensação de entrega. 
Ao entregarmos nosso coração a alguém, entregamos-lhe nossa vida, nossos sonhos e expectativas, nossos projetos e ideais, e até nossas imperfeições. No encontro com o outro esperamos que ele seja capaz de amar nossas virtudes e suportar - há quem diga até, tentar modificar - nossos mal fadados defeitos. E no afã de tornar completa nossa incompletude existencial, mergulhamos num mar de experiências que nos enriquecerá para sempre.
Ao dedicarmos nosso amor, exigimos fidelidade e desejamos a infinitude, condição que a nossa vida nos encerra. A morte, como fenômeno pertencente à vida, diariamente nos revela que estar vivo significa preparar-se para o fim, assim como o fazem todas as coisas vivas.
O difícil é enfrentar que do mesmo modo que há encontros, há desencontros, de interesses, opinião, educação, investimento e afeto. Esses minam o amor e o fazem morrer. É o rompimento que chega gerando perdas significativas.
A maioria de nós, não lida bem com as perdas, naturalmente, no entanto, em se tratando de "vontade", ou da falta desta em seguir um relacionamento, a experiência é menos compreendida.
Muitos casais, ao romperem sua união, estão deixando para trás muito mais do que o amor. É uma vida construída, de muito ou pouco tempo. Uma vida idealizada e projetada um no outro.
Há quem saia aliviado, há quem saia atormentado. Há os que se despedaçam, desesperam. Há inclusive aqueles que saem "numa boa", mas até estes, em algum momento, reconhecem o que perderam e não mais existirá, não ali.

In "sobre o enfrentamento do luto conjugal" , por
Kátia Cristiane V. de Araújo Bezerra

domingo, 1 de maio de 2011

Millena Câmara por ela mesma

QUEM SOU EU?

Uma apaixonada pela vida, vida que passei a valorizar ainda mais quando comecei a trabalhar com a morte.
Sou psicóloga, formada pela UFRN, em 1999.
Após me formar fui pra São Paulo e lá me especializei em Psicologia hospitalar, primeiro pelo NEMETON – Hospital Brigadeiro Luis Antonio, depois fiz a especialização do InCor FMUSP, também em psicologia hospitalar, com foco em cardiologia.
Estudar era minha meta nesta cidade (SP) que parece não parar, então estudei mais e mais... fiz aprimoramento na PUC-SP em Psicoterapia para pessoas enlutadas e no Instituto Quatro Estações, ambos coordenados pela psicóloga Maria Helena Pereira Franco. Muitos outros cursos. . . tentei fazer e estudar tudo que era possível em dois anos que tinham apenas 24 horas por dia.
Cada vez me encantava mais com o tema da morte, perdas, luto. . .
Voltei para Natal, que coisa boa estar em casa!
Queria aplicar meus conhecimentos em minha cidade e assim comecei a tentar conquistar meu espaço como profissional, mas é claro sem parar de estudar.
Fiz especialização em Gestalt-terapia pelo IGT-PE.
Comecei a trabalhar em um cemitério da cidade introduzindo a Psicologia do Luto. Pioneiramente no Brasil realizei atendimento em grupo a famílias enlutadas em um cemitério, o que posteriormente foi ampliando e o serviço passou a oferecer aconselhamento individual e atenção e cuidado aos profissionais do fazer funerário.
Ousadamente, como acho que sempre fui, levei esse trabalho por duas vezes a São Paulo, uma no Congresso Brasileiro de Tanatologia e outra no Congresso Internacional de Tanatologia, no qual recebi o prêmio Colin Murray Parkes.
Que alegria! Senti-me muito realizada, uma motivação para prosseguir...
E prossegui.
Desde minha volta a Natal o consultório sempre foi constante e crescente e paralelo a ele, o cemitério e outras atividades: prefeitura de Ceará-Mirim; Clínica Multimedical; Secretaria de saúde de Natal – CAPS leste e Posto de saúde Cidade Nova. Neste último, fui convidada a uma intervenção decorrente do desabamento do teto da escola municipal Marise Paiva.
Trabalhar, trabalhar, trabalhar.
A vida prosseguia e ganhos e perdas aconteciam; alegrias e dores; risos e lágrimas. . .
Ganhei um sobrinho maravilhoso que trouxe mais luz para minha vida e por que não dizer me ensinou uma forma de amar ainda desconhecida para mim: me senti mãe.
Gabriel foi o anjo que anunciou a Maria a chegada de Jesus e o Meu Gabriel é o meu anjinho que me anuncia todos os dias como é bom amar.
Em 2007 uma tragédia aérea acontece e mais um grande desafio, trabalhar com uma situação emergencial cujas dores agudas atingem uma dimensão inimaginável. Grande aprendizado, talvez a mais forte experiência que trouxe transformações profissionais e pessoais.
Mudanças, mudanças, mudanças. . .
Sai do cemitério e no mesmo ano 2008 me submeti a seleção para o mestrado. Passei!
Misto de alegria e medo; quantos questionamentos me invadiram e o principal deles: como vou consegui administrar meus pacientes e o mestrado?
Não sei como mas consegui.
Comecei em 2009, mesmo ano em que Deus me presenteia com mais um anjinho, minha sobrinha Isadora. Mais um amor ? Não. Mais um grande amor!

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Uma dor chamada Luto

“E a vida vem em ondas, como o mar, num indo e vindo infinito. Tudo que se vê não é igual ao que a gente viu há um minuto, tudo muda o tempo todo, no mundo.
Não adianta fugir, nem fingir pra si mesmo agora, há tanta vida lá fora e aqui dentro sempre, como um onda no mar. . .”
            Pois é! Lulu Santos conseguiu expressar metaforicamente a vida como o mar, que linda associação!
            “E a vida, e a vida o que é diga lá meu irmão, ela é a batida de um coração, ela é uma doce ilusão. E a vida, ela é maravilha ou é sofrimento, ela é alegria ou lamento, o que é, o que é meu irmão. Há quem fale que a vida da gente é um nada no mundo . . . somos nós que fazemos a vida, pro que der e quiser e vier. Sempre desejada, por mais que seja errada, ninguém quer a morte, só saúde e sorte. . . viver e não ter a vergonha de ser feliz, cantar e cantar e cantar a beleza de ser um eterno aprendiz...”
            Pois é! Gonzaguinha nos presenteia com uma música que fala por si, que fala por nós.
            Talvez sejamos apenas isso, eternos aprendizes de um constante ir e vir, que mesmo diante das dores da vida podemos retirar algum tipo de ensinamento, de crescimento, de alguma coisa que nem nós sabemos, mas que incrivelmente nos impulsiona para continuar, quando parece que não há mais força, não há mais sentido. . . 
            Talvez sejamos empurrados pelo amor a quem partiu, que não se esgota com a morte.
            Essa dor que parecesse não ter nome, que parecesse não ter fim. . .  essa dor é a dor da perda, é o luto.
            E como precisamos nos respeitar nesse momento em que todo nosso Eu esta sofrendo. Emocionalmente, fisicamente, socialmente, cognitivamente e parece que não nos reconhecemos, que vamos enlouquecer, que não vamos suportar.
E precisamos de respeito pois é na dor que nossa subjetividade se manifesta da forma mais intensa.
O luto é o processo de elaboração das perdas, sejam elas para a vida ou para a morte. É o “tempo” que precisamos para nos dar conta da ausência e buscar um sentido e assim poder retomar a vida, não mais da mesma forma. Objetivos, conceitos, regras, tudo passa a ser reformulado. Somos diferentes a cada dia e diante de cada acontecimento significativo. Diferente não significa pior, apenas diferente.
Precisamos aceitar nossas dores e nosso tempo, precisamos respeitar que, como humanos, a morte é um acontecimento demasiadamente doloroso, mas precisamos sobretudo acreditar que poderemos “suportar”. A cada dia me surpreendo mais com os exemplos de coragem e superação das pessoas diante das perdas, histórias que tocam e ensinam.
Luto não é doença, mas pode vir a se tornar caso não seja vivenciado ou caso se cronifique. O importante é reconhecer seus limites e pedir ajuda profissional quando sentir necessidade.
A morte nos ensina o quanto a vida precisa ser vivida com qualidade, o quanto nossos vínculos precisam estar saudáveis pois diante da dor da perda é a história que foi vivida que nos serve de apoio para prosseguir sem a pessoa que tanto amamos fisicamente ao nosso lado.
Com o luto podemos aprender que não perdemos quem amamos, mas passamos a nos relacionar de outra forma, que requer adaptação. Carregamos dentro de nós essas pessoas que sempre farão parte de nossa história, de nós.
Talvez, enlutar-se seja o tempo necessário para aprendermos uma nova forma de amor, um amor em que o outro passa a estar dentro de nós e não mais fora.

Millena Câmara

segunda-feira, 28 de março de 2011

O agente funerário e a morte

Nesta quinta 31 de março, a psicóloga Millena Câmara estará defendendo sua dissertação de mestrado entitulada O AGENTE FUNERÁRIO E A MORTE: O CUIDADO PRESENTE DIANTE DA VIDA AUSENTE, no auditório "A" do CCHLA (Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes), na UFRN, às 14:30h.

Para quem se interessa pelo tema, ou tem acompanhado o trabalho desenvolvido por Millena Câmara na área do Luto nos últimos anos, será imperdível.

domingo, 27 de março de 2011

Matéria em Novo Jornal

Saiu na edição de sábado, 26/03, do Novo Jornal (Natal-RN), uma matéria de página inteira entitulada PSICOLOGIA DA DOR, fidedignamente baseada na entrevista com a psicóloga idealizadora deste Curso, Millena Câmara.

A matéria aborda sensivelmente o tema do Luto e, para além da morte, traz à luz a dor daqueles que sofrem e se enlutam significativamente por perdas em vida. Mudanças de etapas infância/adolescência, fase adulta/velhice; doenças; alterações na vida profissional como aposentadoria, transferência, demissão; separação conjugal; e até afastamento entre membros na família; são apenas alguns exemplos de tais perdas, defendendo a ideia de que "sentimento de luto nem sempre está ligado a uma situação de falecimento".

Sobre o enfrentamento da morte, aponta a entrevistada: "Todo mundo sabe que vai morrer mas não enxerga com bons olhos a possibilidade da morte", e destaca ainda: "Não tem como não chorar e sofrer, mas o amor não termina com a morte".

Parabéns ao jornalista Marcelo Godeiro que, cuidadosamente, escreveu a matéria, contribuindo para  revelar a importância da terapia do Luto, e divulgar o Curso Apego e Perdas.

segunda-feira, 14 de março de 2011

Definido o local do curso

O curso será realizado no auditório da AMPERN (Associação do Misitério Público do Estado do RN), av. Amintas Barros, 4175, Lagoa Nova.

domingo, 13 de março de 2011

Abertas as inscrições

O ser humano tem como inerentes à sua existência o vínculo, enquanto base de sua constituição psíquica, as perdas normativas, que acompanham toda sua vida, e a morte enquanto condição de finitude própria e dos entes queridos. No entanto, esses temas se configuram como elementos de complexa elaboração pessoal, sendo muitas vezes difícil para o sujeito enfrentar situações mobilizadoras, do ponto de vista emocional, em algumas circunstâncias de sua vida. Refletir, discutir, orientar e capacitar alunos e profissionais e lidarem com o tema, a partir da ampliação do conhecimento teórico e prático dos profissionais ministrantes, é o principal objetivo do curso Apego e perdas: compreendendo o processo de luto.

Baseado nas reconhecidas teorias de constituição do vínculo e nos mais recentes estudos sobre a psicoterapia do luto, o curso pretende elucidar questões importantes acerca dos temas em questão.
As inscriçoes já foram iniciadas. Serão apenas 40 vagas para o curso que se realizará em 05 módulos (de abril à setembro), com carga horária de 12hs/aula por mês.


O curso será ministrado pelas psicólogas Millena Câmara (especialista e mestre em psicologia do Luto) e Kátia Cristiane Bezerra (mestre na área de família e psicóloga jurídica)  com a participação de convidados, dentre eles, a médica paliativista Daniele Soller, o enfermeiro  e doutor na área, João Bosco e a psicóloga Arieli de Freitas do Rio Grande do Sul, com experiência em desastres aéreos.

Em breve será aqui disponibilizada a programação completa do curso.

Informações e inscrições:
Marianna Mendes - 9418-2852 
Luciana Brasileiro - 8885-7877
apegoeperdas@gmail.com